quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Dor que desatina sem doer

Começou com uma dor atrás da coxa como se fosse o nervo ciático, depois uma dor no pé, depois eu não conseguia mais correr os 5 km de todos os dias. Conversando com meu treinador na época, ele olhou meus pés, examinou e falou que iria pesquisar.
Uma semana depois ele me chamou e disse que os sintomas que eu descrevi eram muitos parecidos com casos de artrite reumatóide e que eu estava no grupo de risco: 32 anos, mulher, etc.... Tomei um susto e corri pra internet pesquisar o que era, fiquei com medo e marquei uma consulta. Enquanto isso, as dores pioravam: um dia doía os pés, no outro o braço, o ombro, o pescoço, mãos, punhos, cóccix, doía tudo!!!! Mas os pés eram campeões!!! A dor era de matar!!!
Quem me atendeu foi um ortopedista que tirou raio X dos pés de todos os jeitos e não viu nada, passou um remédio (Miosan) pra dor e muito sabiamente me indicou um reumatologista, mas a consulta só seria dali a 3 semanas, nesse meio tempo, estava eu tomando o bendito do remédio, que até tirava a dor, mas os efeitos colaterais, não compensavam: sonolência, dores estomacais, boca amarga. Aproveitei também pra escrever os sintomas que eu tinha.
Dia da consulta lá estava eu no consultório lotado de velhinhos! Isso mesmo, eu estava me consultando com um especialista da 3ª idade! No terceiro paciente eu vi o médico. Que médico! Lindo, afável e gentil com todos, ele mesmo chamava os pacientes e por fim chegou a minha vez, ele abriu um sorriso e me convidou a entrar no consultório.
Dr. Adriano, esse era o nome dele, perguntou o que me trazia até lá, então tirei minha agenda da bolsa e listei todas as minhas dores. No final, perguntei: Tem cura doutor? Ele sorriu (um sorriso lindo) e disse: “Tem sim. Você tem uma doença chamada Fibromialgia.” À partir daquele momento fui apresentada a uma doença que me acompanha há 6 anos. O médico explicou o que era, como “pegava” e como se tratava. Primeira coisa: não tem cura. O que se trata são os sintomas, no caso as dores, que são a essência da doença. Segundo: Para que a doença possa regredir o paciente deve fazer uma revolução pessoal, vida regrada e sossegada, fugir das situações de estresses Em tempo: na época eu trabalhava em uma escola que era um pepino de primeira. Era problema por cima de problema. Ele aconselhou uma atividade de baixo impacto e enfatizou uma mudança de vida, passou um remédio e me mandou voltar dali um mês .
Voltei pra natação e assim as dores amenizaram. Na segunda consulta falei pro médico que agora acordava com a sensação que uma bicicleta havia me atropelado, pois, antes era um caminhão!O remédio, era melhor que o outro, mas ainda tinha a sonolência, mas mesmo assim achei que tava melhorando.
Ledo engano, nesses 6 anos de fibromialgia aprendi muita coisa sobre eu mesma: A doença realmente não tem cura, com o tempo você descobre que cada dor tem uma razão de ser emocional. E fica craque em discernir a dor que resulta da doença e a outra que por outro motivo dói. Exemplo: dor no pescoço é nervoso, dor no pé é ansiedade, no ombro é raiva, carregar muito peso, ficar muito tempo numa mesma posição, salto alto, caminhadas sem sapato adequado sentar ou deitar em coisas duras ou fofas fazem estragos, principalmente no cóccix e por aí vai.
Só não consegui me livrar da cerveja e álcool, rsrrsrsrs, pois, saibam caros leitores o álcool potencializa a dor.
Se antes eu fazia as coisas correndo e andava rápido, tive que aprender a desacelerar e me afastar de tudo que fazia mal pra mim e não pensem que foi da noite para o dia, não! Foi um aprendizado. Aos poucos fui me afastando do que me fazia mal: pessoas, trabalho, situações que poderiam desencadear um ciclo de dor.
Só não deu pra fugir da faculdade. Como se livrar de Estatística, Estágio, Monografia? Foram 3 anos e meio de muita dor no pescoço, no pé e no ombro, muito relaxante muscular e muito choro embaixo do chuveiro, pois, eu pensava que a dor jamais iria passar, isso sem falar na mala de livros e das horas intermináveis na parada de ônibus.
A faculdade acabou e com ela muitas dores também se foram.
Hoje sei que ter fibromialgia me fez reconhecer os meus limites e entender meu organismo. Tem dias que exagero, como em Salvador (não dá pra encarar 36 horas de carro, em 2009, vou de avião), sentar nas cadeiras duras da praia e de noite cair na farra, acredite, no 2º dia eu estava destruída e pedi arrego. Fiz um roteiro da folia: caí na farra dia sim, dia não, bebia muita água e dormia. Assim, consegui passar a folia quase incólume. Duro foi voltar: mais 36 horas de carro!! Foram necessárias 3 semanas de analgésico e relaxante muscular pra voltar ao normal
Por essas e outras, fiquei meio resistente à dor, de tão acostumada, às vezes não tomo remédio pra enxaqueca aí o negocio desanda. Mas não me abalo, existem dores piores.
Beijos.