quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

O mundo é grande


O mundo é grande
E cabe nessa janela sobre o mar
O mar é grande
E cabe na cama e no colchão de amar
O amor é grande
E cabe no breve espaço de beijar
                                              Carlos D. de Andrade

Sempre fui apaixonada por essa poesia do Drummond, O mundo grande, mas ficava encucacada sobre essa mistura de mundo grande, janela, colchão, mar e amor; foi preciso crescer, ficar adulta e mais experiente pra entender todos esses significados do jogo de palavras feitas por esse mineiro come quieto que tanto fala ao meu coração e ao de muitos outros.
Mas não vim aqui falar sobre poesia, estou aqui pra falar como o mundo é grande e da vontade que tenho em que ele se torne pequeno, pois à medida que conhecemos mais e mais lugares, o mundo vai se apequenando; não por banalidade, mas pelo conhecimento. Já parou pra pensar que tudo fica mais fácil quando sabemos com o que estamos lidando?
E eu vou ali, ver se o mundo é grande mesmo. Com o coração aberto para aprender, ser tolerante, respeitar o diferente e acima de tudo me encantar com o novo!! Por isso, mais do que nunca a poesia de Drummond faz sentido, pois, parodiando outro poeta famoso eu posso dizer que viajar é preciso e viver só faz sentido quando nos abrimos para o mundo. Mas não se preocupem, eu vou contar tudo.
Beijos e até a volta!

domingo, 18 de dezembro de 2011

A fala dos outros - As Aventuras de Ícaro

Já está virando quase uma tradição deixar outros falarem em meu nome aqui no blog; hoje quero que vocês conheçam o Ícaro, meu amigo super gente boa, mas um poço de timidez que me escreveu esse texto numa noite quente de dezembro. Achei tão bacana que pedi pra postar, e ele claro, disse que não, pois o texto não era tão bom assim! Mas o texto é bom, engraçado e por um motivo faz a gente pensar sobre nossos atos e ações e suas consequências; só por isso já vale a leitura.
Então, sem mais delongas As Aventuras de Ícaro!!!!
Divirtam-se e boa leitura!



Em janeiro de 1988, entrava, por dois anos, em uma escola militar que tinha 2000 alunos. Dividia o alojamento com 91 companheiros com média de idade de 18 anos. Em poucos dias formou-se um grupo de 10 camaradas que ficaram conhecidos como "a galera do 5", em referência ao número de matrícula (eu era o 590). A afinidade impressionava! Impressionava tanto quanto a capacidade de fazer besteiras!!!
            Era engraçado ver os outros nos olhando desconfiados e muitas vezes com medo do que poderíamos aprontar! E não era sem razão!!! Não se tratava de violência, gangue ou algo assim! Éramos somente um grupo de moleques que aprontavam as mais diversas e inconsequentes peripécias! Fazíamos armadilhas com as camas, para que quando o sujeito deitasse, ela desmontasse e caísse no chão, pegávamos carona na Via Dutra (que era terminantemente proibido!!!!) E muitas outras coisas do arco da velha!!
            Nunca me esqueço de uma madrugada (3h, 4h), depois de deixar a biblioteca me aproximando do alojamento, avistei no meio do pátio umas quatro ou cinco camas com colchão e roupas de cama embolados pelo chão. Quando vi (de longe) aquilo, pensei logo, tenho certeza que a minha está naquele meio! Dito e feito, entrei no alojamento, e cadê a minha cama?
            Bom, o fato é que toda vez que estávamos prestes a fazer alguma coisa, sempre se ouvia da boca do 590 que aquilo podia (desculpe-me a expressão) "dar merda!!!" Uma vez, um amigo me disse: "porra Ícaro!!! Você tá sempre com a gente, e sempre fica falando que pode dar merda! Para com essa porra!" Então, expliquei para ele que eu fazia aquilo para que o dia que fossemos pegos, ninguém poderia reclamar que não sabia o que poderia acontecer! 
E assim foram os dois anos que ali passamos. Chegou ao ponto de que nos últimos meses da nossa permanência, o Sargento responsável pelo nosso alojamento perdeu a linha e disse que nós não sairíamos dali sem que ele ao menos conseguisse "fuder" com um de nós! Foi engraçada aquela cena na frente de todo o alojamento!!!!
            Mas, na última noite, como não poderia deixar de ser, fomos aprontar a última! Como era a última noite, alguns colegas (que não da galera do 5)  se encheram de coragem e resolveram nos acompanhar. E dessa vez, não houve o alerta de que "aquilo poderia dar em merda". Talvez até porque era uma coisa simples! Íamos apenas tomar vinho na piscina (duas coisas proibidas: vinho e piscina à noite). Mas para isso, tínhamos que atravessar uns três alojamentos de outras séries. Esse foi o problema! Os caras se assustaram e começaram a pedir socorro, pensando que estávamos tentando invadir o alojamento deles! Nisso, foi acionada uma patrulha para ver o que estava acontecendo. E com isso, o nosso grupo se separou. Uma parte continuou correndo para a piscina, e a outra voltou para o alojamento. 
            E a patrulha foi atrás do grupo que correu para o alojamento conseguindo pegar um de nós! Exatamente o 586! Depois de um tempo, o 586 entrou no alojamento e falou que o Sargento, chefe da patrulha, disse que se o restante da galera não se apresentasse, ele seria desligado (expulso!), ou então que ele dissesse o nome dos outros que estavam com ele! Claro que o 586, como um bom integrante da "galera do 5" não diria o nome de ninguém! Então, nos reunimos e decidimos que nos entregaríamos. Quando nesse momento, um camarada que não fazia parte da nossa "galera", mas que se encheu de coragem no último dia e resolveu nos acompanhar, disse que não se entregaria e foi deitar em sua cama! Enfim, nos apresentamos, gastamos a maior lábia de nossas vidas e conseguimos ser absolvidos!!! 
Dez anos se passaram e um belo dia, em um shopping, dou de cara com o corajoso que abandonou o barco ao primeiro sinal de água! Putz! Passou um filme na minha cabeça! Ele olhou para mim, esboçou um sorriso, eu fechei a cara e desviei o caminho! Pouco depois pensei se não havia sido injusto com ele, pois como ele não era da "galera do 5", nunca tinha ouvido o Ícaro dizer que "aquilo podia dar merda!!!", e justamente na noite que deu, tínhamos o "desavisado" a bordo!!!!!
Essa história toda é só pra dizer que a vida é feita de opções, que podem marcar não só o nosso caminho, como também o caminho de outras pessoas que cruzaram conosco. Portanto, é por isso que se deve sempre avaliar muito bem as conseqüências de nossas escolhas, para que no futuro, em um novo cruzamento, possamos ter como resposta a um sorriso, outro maior ainda e de preferência seguido de um forte abraço.


quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

O Samba da Vida

Vivi duas experiências super bacanas essa semana, a primeira foi um encontro com direito a frio na barriga e expectativa, que não decepcionou e foi maravilhoso e o outro foi o aniversário de um amigo muito querido onde celebramos mais uma vez a vida (do meu amigo), o que ela nos proporciona, a companhia e a camaradagem que unem pessoas tão díspares quanto parecidas que provam por A mais B que alguns amigos assim como a família são nosso porto seguro.
Aliado a isso vem a constatação que quanto mais velho ficamos, nossos amigos vão também afunilando, sobram aqueles que te toleram, conhecem teus defeitos, teus pais e tuas fraquezas; já seguraram teu cabelo pra vomitar no drive thru do MacDonalds e compartilham conquistas e alegrias, mas acima de tudo te amam de graça e nunca erram no presente, acham a sua cara e pimba, valeu! Mas é também verdade que precisamos de novas emoções e ideias, pois nosso cérebro grita por desafios, cheiros e modos diferentes de fazer as coisas para não atrofiar, e por mais que evitemos somos uma mistura de novo e velho, razão e sensibilidade, de adrenalina e endorfina, enfim, aquilo que é do humano e se traduz numa palavra: contradição.
E foi voltando ontem pra casa remoendo e elaborando tudo isso lembrei de Vinícius de Morais e de seu Samba da Benção. A música fala da vida e de sua efemeridade, do amor que nos pega de surpresa diante de alguém que foge dos padrões que nos impomos, mas fala também dos amigos conquistados e do que é sagrado para cada um de nós. Não esquecendo claro, a reverência que devemos ter diante das pessoas e de tudo que nos fascina.
Ouvindo a música percebi que a vida é feita pra ser vivida, às vezes perigosamente, às vezes com uma placa erguida escrito CUIDADO em letras garrafais; outras com leveza e em muitos momentos com aqueles que nos amam verdadeiramente sabendo que nossos defeitos são o tempero que realçam as nossas qualidades.
Por último, um recado que está na própria música:

Cuidado companheiro!!!
A vida é pra valer
E não se engane não, tem uma só
(...) 
A vida não é brincadeira, amigo
A vida é arte do encontro
Embora haja tanto desencontro pela vida.


          Saravá, poetinha, saravá!!!!



P.S. Nessa versão quem canta é Paulinho Schoffen no Cotton Clube, no Show "Tributo à Bossa Nova".