domingo, 18 de setembro de 2011

Leões, morangos e Chico Buarque

Durante a leitura do Noites Tropicais, o autor fala muito sobre a ditadura no Brasil e uma das músicas mais bacanas que eu já ouvi fala exatamente desse tempo negro no Brasil: Meu caro amigo. Neste sambinha simples, Chico Buarque manda notícias sobre um país que vivia uma ditadura militar com censura a imprensa, artistas e cultura. Quem discordava ou falava mal sofria as consequências e em oposição a tudo isso ele também falava o que fazia pra ir levando a vida. Uma cachaça, um cigarro, o amor da mulher e o carinho da família, tudo isso pra aguentar as situações que como dizia Chico: “Muita mutreta pra levar a situação que a gente vai levando de teimoso de pirraça...”

Juntando isso li um livro super desprentencioso do Rubem Alves, embora ele não seja um dos meus autores favoritos ele acerta com esse aqui. O livro “Os morangos”, conta uma lenda chinesa sobre um homem, que ao adentrar uma floresta muito escura é perseguido por um leão e em sua corrida desabalada cai de um penhasco e consegue se segurar em um galho preso à parede do precipício, impedido assim de cair mais. O homem percebe que aquilo provavelmente é o seu fim e se desespera, mas ao olhar para a parede a sua frente vê um morango grande e vermelho. Encantado com a fruta e não resistindo, arranca-o e come, maravilhado com seu sabor. Isso renova suas forças e esperanças para enfrentar a situação em que se encontra.
                Quando li o livro achei a história até bobinha, li mais duas vezes para só então perceber o que ela queria dizer e qual a sua relevância. Os morangos são as pequenas alegrias na nossa vida, pois todos os dias enfrentamos problemas – os leões – sejam eles grandes ou pequenos; são o stress do trabalho, do trânsito, a rotina de casa, o pneu furado quando estamos atrasados entre um sem-fim de picuinhas que vão se acumulando e que se não fossem os morangos que colhemos, a vida seria uma escuridão só.
Tanto na música quanto no livro existe uma válvula de escape para as situações que vivemos no dia a dia ou em um contexto temporal, no caso da música de Chico a ditadura; o que me levou a pensar quais são os meus morangos e as minhas válvulas de escape pra quando a coisa fica preta e descobri que ao ouvir as minhas músicas favoritas enquanto dirijo, corro no parque, danço com minha sobrinha, leio um “livro florzinha” ou assisto meu programa favorito na TV estou comendo um morango. Coisas simples quase insignificantes, mas que nos deixam prontos para enfrentarmos os leões e os abismos que a vida coloca a nossa frente porque se não for assim ninguém segura esse rojão.
Até a próxima.
P.S Pra vocês o clipe de Meu caro amigo, com Chico Buarque e Francis Hime.