quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

O mundo é grande


O mundo é grande
E cabe nessa janela sobre o mar
O mar é grande
E cabe na cama e no colchão de amar
O amor é grande
E cabe no breve espaço de beijar
                                              Carlos D. de Andrade

Sempre fui apaixonada por essa poesia do Drummond, O mundo grande, mas ficava encucacada sobre essa mistura de mundo grande, janela, colchão, mar e amor; foi preciso crescer, ficar adulta e mais experiente pra entender todos esses significados do jogo de palavras feitas por esse mineiro come quieto que tanto fala ao meu coração e ao de muitos outros.
Mas não vim aqui falar sobre poesia, estou aqui pra falar como o mundo é grande e da vontade que tenho em que ele se torne pequeno, pois à medida que conhecemos mais e mais lugares, o mundo vai se apequenando; não por banalidade, mas pelo conhecimento. Já parou pra pensar que tudo fica mais fácil quando sabemos com o que estamos lidando?
E eu vou ali, ver se o mundo é grande mesmo. Com o coração aberto para aprender, ser tolerante, respeitar o diferente e acima de tudo me encantar com o novo!! Por isso, mais do que nunca a poesia de Drummond faz sentido, pois, parodiando outro poeta famoso eu posso dizer que viajar é preciso e viver só faz sentido quando nos abrimos para o mundo. Mas não se preocupem, eu vou contar tudo.
Beijos e até a volta!

domingo, 18 de dezembro de 2011

A fala dos outros - As Aventuras de Ícaro

Já está virando quase uma tradição deixar outros falarem em meu nome aqui no blog; hoje quero que vocês conheçam o Ícaro, meu amigo super gente boa, mas um poço de timidez que me escreveu esse texto numa noite quente de dezembro. Achei tão bacana que pedi pra postar, e ele claro, disse que não, pois o texto não era tão bom assim! Mas o texto é bom, engraçado e por um motivo faz a gente pensar sobre nossos atos e ações e suas consequências; só por isso já vale a leitura.
Então, sem mais delongas As Aventuras de Ícaro!!!!
Divirtam-se e boa leitura!



Em janeiro de 1988, entrava, por dois anos, em uma escola militar que tinha 2000 alunos. Dividia o alojamento com 91 companheiros com média de idade de 18 anos. Em poucos dias formou-se um grupo de 10 camaradas que ficaram conhecidos como "a galera do 5", em referência ao número de matrícula (eu era o 590). A afinidade impressionava! Impressionava tanto quanto a capacidade de fazer besteiras!!!
            Era engraçado ver os outros nos olhando desconfiados e muitas vezes com medo do que poderíamos aprontar! E não era sem razão!!! Não se tratava de violência, gangue ou algo assim! Éramos somente um grupo de moleques que aprontavam as mais diversas e inconsequentes peripécias! Fazíamos armadilhas com as camas, para que quando o sujeito deitasse, ela desmontasse e caísse no chão, pegávamos carona na Via Dutra (que era terminantemente proibido!!!!) E muitas outras coisas do arco da velha!!
            Nunca me esqueço de uma madrugada (3h, 4h), depois de deixar a biblioteca me aproximando do alojamento, avistei no meio do pátio umas quatro ou cinco camas com colchão e roupas de cama embolados pelo chão. Quando vi (de longe) aquilo, pensei logo, tenho certeza que a minha está naquele meio! Dito e feito, entrei no alojamento, e cadê a minha cama?
            Bom, o fato é que toda vez que estávamos prestes a fazer alguma coisa, sempre se ouvia da boca do 590 que aquilo podia (desculpe-me a expressão) "dar merda!!!" Uma vez, um amigo me disse: "porra Ícaro!!! Você tá sempre com a gente, e sempre fica falando que pode dar merda! Para com essa porra!" Então, expliquei para ele que eu fazia aquilo para que o dia que fossemos pegos, ninguém poderia reclamar que não sabia o que poderia acontecer! 
E assim foram os dois anos que ali passamos. Chegou ao ponto de que nos últimos meses da nossa permanência, o Sargento responsável pelo nosso alojamento perdeu a linha e disse que nós não sairíamos dali sem que ele ao menos conseguisse "fuder" com um de nós! Foi engraçada aquela cena na frente de todo o alojamento!!!!
            Mas, na última noite, como não poderia deixar de ser, fomos aprontar a última! Como era a última noite, alguns colegas (que não da galera do 5)  se encheram de coragem e resolveram nos acompanhar. E dessa vez, não houve o alerta de que "aquilo poderia dar em merda". Talvez até porque era uma coisa simples! Íamos apenas tomar vinho na piscina (duas coisas proibidas: vinho e piscina à noite). Mas para isso, tínhamos que atravessar uns três alojamentos de outras séries. Esse foi o problema! Os caras se assustaram e começaram a pedir socorro, pensando que estávamos tentando invadir o alojamento deles! Nisso, foi acionada uma patrulha para ver o que estava acontecendo. E com isso, o nosso grupo se separou. Uma parte continuou correndo para a piscina, e a outra voltou para o alojamento. 
            E a patrulha foi atrás do grupo que correu para o alojamento conseguindo pegar um de nós! Exatamente o 586! Depois de um tempo, o 586 entrou no alojamento e falou que o Sargento, chefe da patrulha, disse que se o restante da galera não se apresentasse, ele seria desligado (expulso!), ou então que ele dissesse o nome dos outros que estavam com ele! Claro que o 586, como um bom integrante da "galera do 5" não diria o nome de ninguém! Então, nos reunimos e decidimos que nos entregaríamos. Quando nesse momento, um camarada que não fazia parte da nossa "galera", mas que se encheu de coragem no último dia e resolveu nos acompanhar, disse que não se entregaria e foi deitar em sua cama! Enfim, nos apresentamos, gastamos a maior lábia de nossas vidas e conseguimos ser absolvidos!!! 
Dez anos se passaram e um belo dia, em um shopping, dou de cara com o corajoso que abandonou o barco ao primeiro sinal de água! Putz! Passou um filme na minha cabeça! Ele olhou para mim, esboçou um sorriso, eu fechei a cara e desviei o caminho! Pouco depois pensei se não havia sido injusto com ele, pois como ele não era da "galera do 5", nunca tinha ouvido o Ícaro dizer que "aquilo podia dar merda!!!", e justamente na noite que deu, tínhamos o "desavisado" a bordo!!!!!
Essa história toda é só pra dizer que a vida é feita de opções, que podem marcar não só o nosso caminho, como também o caminho de outras pessoas que cruzaram conosco. Portanto, é por isso que se deve sempre avaliar muito bem as conseqüências de nossas escolhas, para que no futuro, em um novo cruzamento, possamos ter como resposta a um sorriso, outro maior ainda e de preferência seguido de um forte abraço.


quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

O Samba da Vida

Vivi duas experiências super bacanas essa semana, a primeira foi um encontro com direito a frio na barriga e expectativa, que não decepcionou e foi maravilhoso e o outro foi o aniversário de um amigo muito querido onde celebramos mais uma vez a vida (do meu amigo), o que ela nos proporciona, a companhia e a camaradagem que unem pessoas tão díspares quanto parecidas que provam por A mais B que alguns amigos assim como a família são nosso porto seguro.
Aliado a isso vem a constatação que quanto mais velho ficamos, nossos amigos vão também afunilando, sobram aqueles que te toleram, conhecem teus defeitos, teus pais e tuas fraquezas; já seguraram teu cabelo pra vomitar no drive thru do MacDonalds e compartilham conquistas e alegrias, mas acima de tudo te amam de graça e nunca erram no presente, acham a sua cara e pimba, valeu! Mas é também verdade que precisamos de novas emoções e ideias, pois nosso cérebro grita por desafios, cheiros e modos diferentes de fazer as coisas para não atrofiar, e por mais que evitemos somos uma mistura de novo e velho, razão e sensibilidade, de adrenalina e endorfina, enfim, aquilo que é do humano e se traduz numa palavra: contradição.
E foi voltando ontem pra casa remoendo e elaborando tudo isso lembrei de Vinícius de Morais e de seu Samba da Benção. A música fala da vida e de sua efemeridade, do amor que nos pega de surpresa diante de alguém que foge dos padrões que nos impomos, mas fala também dos amigos conquistados e do que é sagrado para cada um de nós. Não esquecendo claro, a reverência que devemos ter diante das pessoas e de tudo que nos fascina.
Ouvindo a música percebi que a vida é feita pra ser vivida, às vezes perigosamente, às vezes com uma placa erguida escrito CUIDADO em letras garrafais; outras com leveza e em muitos momentos com aqueles que nos amam verdadeiramente sabendo que nossos defeitos são o tempero que realçam as nossas qualidades.
Por último, um recado que está na própria música:

Cuidado companheiro!!!
A vida é pra valer
E não se engane não, tem uma só
(...) 
A vida não é brincadeira, amigo
A vida é arte do encontro
Embora haja tanto desencontro pela vida.


          Saravá, poetinha, saravá!!!!



P.S. Nessa versão quem canta é Paulinho Schoffen no Cotton Clube, no Show "Tributo à Bossa Nova".

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

(...)



“Homem tem medo de mulher independente! Pior ainda, homem tem medo de mulher que BOMBA!!! rsrsrsrs Aí o cara conhece uma gata, linda e com estilo nada convencional de se vestir... Bebe tanto quanto ele... Se ele não quiser sair, ela sai só com as amigas. Topa qualquer saída. Não tem tempo ruim, banca suas coisas. Se tiver meio sem grana, se diverte como dá. Se tiver bem de dinheiro, pode até pagar pras amigas. Conversa com todo mundo, conhece muita gente. Falando assim, parece bem divertido ficar com uma mulher dessas. E é! O PROBLEMA É QUE GRANDE PARTE DOS HOMENS NÃO SEGURA A ONDA DE UMA MULHER PAU-A-PAU COM ELES, aí eles namoram a Sandy, a Sandy é fácil de namorar. Ela sai, mas não dança até o chão. Ela não bebe. Nada de decotes ou mini saias. Se o namorado não quiser, ela não sai. Ficam em casa, assistindo comédias românticas.... kkkkkkkkkkk Mas quer saber? Mulher que bomba dispensa homem sem coragem! Mulher de verdade assusta! Uma grande mulher não precisa de homem para se destacar. Mas para ser um grande homem com certeza precisa-se de uma GRANDE MULHER"”
Vi esse texto via Facebook e o achei divertido, mas também revelador porque ele explicita um comportamento que se tornou muito comum nos dias de hoje: a mulher poderosa e até meio cafajeste! E ela tem exatamente esse comportamento: bebe, dança até o chão, em muitos casos ganha mais que seus pares masculinos, beija, é namoradeira, faz sexo com quem lhe aprouver e lógico, apavora os homens!
Por que resolvi escrever sobre isso? Porque em muitos aspectos me vejo como essa mulher livre (sim, ela é livre e eu me considero livre para fazer o que me aprouver, entretanto, sabendo que meus atos e decisões devem vir acompanhados da devida responsabilidade que se impõem), mas que é julgada e tachada de nomes horríveis por simplesmente tem coragem de não levar em conta o fardo pesado que é a opinião ou o julgamento dos outros. Falo alto, sei dezenas de palavrões, sou grossa em muitos momentos, ousada no vestir e aprendi que ser a boazinha não dá futuro pra ninguém. Sabe aquela frase mulheres boazinhas vão pro céu e as más vão pra onde elas quiserem? É quase um mantra colado na porta do meu guarda-roupa. Sem arrogância nenhuma me considero mais inteligente que a maioria dos homens, viajo, consumo, me divirto e pago isso à custa do meu próprio suor. Imagina que esses dias minha amiga me mandou falar baixo no bar onde estávamos, pois assim eu não arrumaria namorado. Já imaginou, gente, eu encalhada porque digo palavrões e falo alto? Tive que rir e soltar outro palavrão para ela como resposta.
Rapazes, é uma pena que vocês se sintam ameaçados; diferente de vocês a maioria de nós não se intimida ou julga um homem cafajeste; pelo contrário, temos a empáfia e arrogância de pensar e achar que conosco seria diferente, nós ousamos imaginar que temos o poder de “salvar” aquele homem de si mesmo e transformá-lo em um espécie fiel, apaixonado e exemplo a ser seguido pelos amigos. Se ele vai mudar, isso vai depender dele e da mulher que decidiu empreender a jornada de transformar um canalha em um moço que toda sogra pediu a Deus. Se ela conseguir, bom para ele e para ela. Mas cá entre nós, a gente sabe que a mudança seria temporária. rrsrrrs
Mas com a gente é diferente, mulher 3D (disposta, disponível e desibinibida) é sempre galinha; vai passar pelo mundo como fácil e provavelmente nunca vai ter um sujeito boa praça que veja além dela, que lá no fundo – e às vezes na superfície mesmo – existe um ser doidinho pra virar uma moça séria e constituir família. Eu, do alto da minha humilde opinião, acho que é aquela coisa de enquanto o homem certo não chega, vou me divertindo com os errados. O problema é que homem certo é mercadoria em falta na prateleira. Seja pela falta mesmo de matéria-prima ou saber que a vida livre é uma delícia. Essas moças loucas e ousadas são ótimas companheiras de conversa, copo e  viagem estariam prontas para tudo ao lado de um cara que soubesse respeitá-las e amá-las e que diferente da maioria não quisesse que elas andassem um passo atrás deles.
Provavelmente elas seriam e são perfeitas até na cama, realizando juntos cada fantasia imaginada pelos dois. Ainda não chegamos nesse ideal de relacionamento, o que eu acho uma pena. Gostaria muito que a coisa fosse como o casal do Titanic na hora que o bicho pegasse: Se você pular, eu pulo. E nunca deixar o outro para trás. Quem sabe um dia...

P.S. Com uma ajudinha da Fabiana e do Rogerio, foi que esse texto foi criado. Beijo para os dois!

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

A Lei de Auri

A fala dos outros Parte II


A moça na foto comigo se chama Aurilene, casada, três filhos, professora como eu e um dom com as letras e as palavras que fascinam não só a mim, mas a todos que têm a oportunidade e o prazer de ler e ouvir seus escritos.
Postei aqui o memorial feito no último dia presencial do nosso Curso de Especialização em Educação Infantil, que para todos nós da turma é uma das maiores declarações de amor pela família e pela vida.

Com vocês, a Lei de Auri!!!! Palmas para ela!!!!!


Minhas memórias


Eu não poderia encerrar essa primeira etapa do Curso de Especialização em Educação Infantil sem falar no poder da palavra. Palavra que nos fascina, que nos inscreve no mundo, que nos aprisiona mais que também nos liberta. Palavra que todos os professores desse curso inscreveram em nós.  Palavra que me permite narrar e registrar a minha história.  História que ficará um pouco em cada pessoa que  ouvir, ler  ou  identificar-se com ela.
Filha de Ariolino Guedes da Silva e Francisca Alves Lima da Silva, irmã de Atevaldo, Ariosvaldo, Auricélia, Alda, Aleilto, Alenilda, Alcilene e Alecildo. Em outros momentos eu faria piada do nome de meus irmãos e do meu, Aurilene, é claro. Por diversas vezes falava o nome de todos seguindo a ordem de nascimento só pra ver a expressão de espanto de quem os ouvia.  Mas hoje não quero fazer piada da família “A”, como a denominei. Hoje quero me situar no mundo enquanto sujeito, quero descobrir minha identidade, entender a minha trajetória e para isso preciso me “agarrar” em minhas memórias. Ao tentar resgatar e narrar minhas memórias sinto cheiro, sabores e sensações de minha infância.
Não fui criada pelos meus pais biológicos, mas por minha tia, Maria de Lourdes, que morava na capital federal. Religiosamente, ela me levava para visitar minha família nas férias de dezembro. Nasci em um lugar chamado “Ponta do Aterro” no Maranhão. Recordo-me da casa no alto de uma montanha, feita de pau- a- pique, do córrego que passava por perto, era lindo. Lembro-me de quando ia visitar meus pais e irmãos nas férias de final de ano. Eu era criança, acho que tinha uns seis anos de idade. A minha chegada era sempre motivo de festa. Nos primeiros dias de férias sempre estranhava o lugar em que nasci e ficava pensando: como pode ter um lugar sem geladeira, sem luz elétrica, chuveiro e sem o pão quentinho comprado na padaria da esquina?  
 Os primeiros dias eram sempre de adaptação. Recordo-me de meus irmãos mostrando o material escolar que tinham: um caderno de brochura, um lápis e uma borracha.  Eu sempre perguntava onde estava a canetinha, o lápis de cor, o giz de cera, a borracha com cheirinho de fruta. Quando eu perguntava sempre ficava um silêncio no ar.  Silêncio que eu não entendia na época... Mais eu também tinha que me adaptar a liberdade que meus irmãos usufruíam: subiam em árvores para colher frutas, armavam “arapucas” para pegar passarinhos, pescavam, nadavam no igarapé enquanto minha mãe lavava roupa sentada em uma tábua dentro da água, sempre cantarolando... Na volta para casa, minha mãe era ajudada pelas minhas irmãs: colocavam bacias na cabeça com as roupas lavadas e lá íamos nós, brincando com tudo que encontrávamos no caminho. Por muitos anos segui esse “ritual de férias.”
Emociono-me ao relembrar esses pequenos acontecimentos. Emociono-me ao tentar procurar as palavras certas para falar sobre minhas memórias. E são com essas palavras que me percebo, que viajo em mim mesma. Faço minha as palavras de José Saramago quando ele diz em um dos capítulos do livro Viagem a Portugal que “a viagem não acaba nunca. Só os viajantes acabam. E mesmo estes podem prolongar-se em memória, em lembrança, em narrativa. Quando o visitante sentou na areia da praia e disse: “Não há mais o que ver”, saiba que não era assim. O fim de uma viagem é apenas o começo de outra. É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na primavera o que se vira no verão, ver de dia o que se viu de noite, com o sol onde primeiramente a chuva, caía ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não estava. É preciso voltar aos passos que foram dados, para repetir e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre.”
E este curso está me proporcionando, ou melhor, nos proporcionando recomeçar uma nova viagem. Primeiramente uma viagem em nós mesmos, ajudando-nos a nos reconhecer enquanto sujeitos históricos, com memórias a serem narradas, pensadas, questionadas. Estamos vendo o que não foi visto, reavaliando o que já tínhamos visto, percebendo que a história é dinâmica e que por isso não devemos nos portar como se ela fosse estática, o que reflete diretamente na visão que temos sobre a infância e sobre a criança. Precisamos “voltar aos passos que foram dados,”  entender e dialogar com o passado para nos sentirmos “pertencentes” ao presente e responsáveis, mesmo que em pequenas ações em nosso cotidiano, pelo futuro. Futuro que começa aqui e agora, com engajamento e responsabilidade social.
Aurilene Lima


sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Ao mestre com carinho



Na foto acima estão as duas homenageadas da crônica: Zóia Prestes (no meio de blusa preta sem mangas) e Patrícia Pederiva (atrás  da Zóia, de óculos e um sorrisão) e a nossa turma inesquecível de 2010/2011 da Pós em Educação Infantil - UnB.


            Impossível não deixar de me emocionar quando a Patrícia nos levou para debaixo de uma árvore e nos fez cantar e seguir os outros fazendo sons com o nosso corpo. Admito, morri de vergonha e tenho certeza que o restante da turma também, mas ela seguia fazendo como se aquilo não fosse nada e seguiu por três meses dizendo que ninguém precisava ser PhD para ensinar música para seus alunos. Via pelos olhos meus e dos meus colegas o encantamento que ela provocava na turma. Ao pedir que cada aluno fizesse seu memorial musical ela fez um favor a todos nós; foi com isso que muita gente se reencontrou com suas raízes conheceu melhor a família e botou reparo em sentimentos, emoções e canções que estavam perdidas no baú da vida e que nunca tinham sido analisados. As leituras e apresentações desses memoriais foram uma das coisas mais emocionantes que já vivi.
            E havia também a maneira doce e acessível que ela se achegava a nós e de como ainda hoje passado quase um ano ainda nos cumprimenta pelos corredores da FE, como se não nos visse há anos. Pode até parecer puxa-saquismo meu, mas foi ela também que me apresentou Vigotski, não aquele chato das aulas de Pedagogia, mas o cara que falava das crianças como verdadeiro conhecedor, o que mostrava como as crianças se relacionavam com o teatro, com a música e com o desenho e mais legal ainda foi ela contar com os olhos brilhantes e emocionados que tinha ido a casa dele quando esteve em Moscou ao final do ano passado. Por essa marquei a Rússia como um dos destinos das muitas viagens que ainda farei
Entretanto, falar de Vigotski é também falar da Zóia, pois foi com ela que eu conheci o Lev, foi com ela que fiquei íntima de Lev Semenovich Vygotsky, a partir delas meu mundo viu com outros olhos esse homem tão fascinante e que tão prematuramente nos deixou.
Foi com a Patty também que me relacionei e comecei a ver a música de uma nova maneira, a de saborear por ela mesma. Também com ela que aprendi que música rima com letras, com escritos e que devem ser entrelaçados sempre que possível. Com a Patty aprendi que música é letra e que letra é música e que as duas rimam com a vida.

domingo, 9 de outubro de 2011

A fala do outros

Recebi no meu email e achei tão bacana que resolvi postar aqui no blog. Se alguém souber o autor, por favor, avisem, faço questão do crédito.

Eu nunca trocaria meus amigos surpreendentes, minha vida maravilhosa, minha amada família por menos cabelo branco ou uma barriga mais lisa.  Enquanto fui envelhecendo, tornei-me mais amável para mim, e menos crítica de mim mesmo. Eu me tornei meu próprio amigo. Eu não me censuro por comer biscoito extra, ou por não fazer a minha cama, ou para a compra de algo bobo que eu não precisava, como uma escultura de cimento, mas que parece tão “avant garde” no meu pátio. Eu tenho direito de ser desarrumada, de ser extravagante. 
Vi muitos amigos queridos deixarem este mundo cedo demais, antes de compreenderem a grande liberdade que vem com o envelhecimento. Quem vai me censurar se resolvo ficar lendo ou jogar no computador até as quatro horas e dormir até meio-dia?  Eu Dançarei ao som daqueles sucessos maravilhosos dos anos 60 &70, e se eu, ao mesmo tempo, desejo de chorar por um amor perdido... Eu vou.
Vou andar na praia em um maiô excessivamente esticado sobre um corpo decadente, e mergulhar nas ondas com abandono, se eu quiser, apesar dos olhares penalizados dos outros no jet set. Eles, também, vão envelhecer. Eu sei que eu sou às vezes esquecida.  Mas há mais, algumas coisas na vida que devem ser esquecidas. Eu me recordo das coisas importantes.
Claro, ao longo dos anos meu coração foi quebrado. Como não pode quebrar seu coração quando você perde um ente querido, ou quando uma criança sofre, ou mesmo quando algum amado animal de estimação é atropelado por um carro? Mas corações partidos são os que nos dão força, compreensão e compaixão. Um coração que nunca sofreu é imaculado e estéril e nunca conhecerá a alegria de ser imperfeito.
Eu sou tão abençoada por ter vivido o suficiente para ter meus cabelos grisalhos, e ter os risos da juventude gravados para sempre em sulcos profundos em meu rosto. Muitos nunca riram, muitos morreram antes de seus cabelos virarem prata. Conforme você envelhece, é mais fácil ser positivo.  Você se preocupa menos com o que os outros pensam.
Eu não me questiono mais. Eu ganhei o direito de estar errado.
Assim, para responder sua pergunta, eu gosto de ser velha. Ele me libertou. Eu gosto da pessoa que me tornei.  Eu não vou viver para sempre, mas enquanto eu ainda estou aqui, eu não vou perder tempo lamentando o que poderia ter sido, ou me preocupar com o que será.  E eu vou comer sobremesa todos os dias (se me apetecer).
Boa semana pra vocês.

domingo, 18 de setembro de 2011

Leões, morangos e Chico Buarque

Durante a leitura do Noites Tropicais, o autor fala muito sobre a ditadura no Brasil e uma das músicas mais bacanas que eu já ouvi fala exatamente desse tempo negro no Brasil: Meu caro amigo. Neste sambinha simples, Chico Buarque manda notícias sobre um país que vivia uma ditadura militar com censura a imprensa, artistas e cultura. Quem discordava ou falava mal sofria as consequências e em oposição a tudo isso ele também falava o que fazia pra ir levando a vida. Uma cachaça, um cigarro, o amor da mulher e o carinho da família, tudo isso pra aguentar as situações que como dizia Chico: “Muita mutreta pra levar a situação que a gente vai levando de teimoso de pirraça...”

Juntando isso li um livro super desprentencioso do Rubem Alves, embora ele não seja um dos meus autores favoritos ele acerta com esse aqui. O livro “Os morangos”, conta uma lenda chinesa sobre um homem, que ao adentrar uma floresta muito escura é perseguido por um leão e em sua corrida desabalada cai de um penhasco e consegue se segurar em um galho preso à parede do precipício, impedido assim de cair mais. O homem percebe que aquilo provavelmente é o seu fim e se desespera, mas ao olhar para a parede a sua frente vê um morango grande e vermelho. Encantado com a fruta e não resistindo, arranca-o e come, maravilhado com seu sabor. Isso renova suas forças e esperanças para enfrentar a situação em que se encontra.
                Quando li o livro achei a história até bobinha, li mais duas vezes para só então perceber o que ela queria dizer e qual a sua relevância. Os morangos são as pequenas alegrias na nossa vida, pois todos os dias enfrentamos problemas – os leões – sejam eles grandes ou pequenos; são o stress do trabalho, do trânsito, a rotina de casa, o pneu furado quando estamos atrasados entre um sem-fim de picuinhas que vão se acumulando e que se não fossem os morangos que colhemos, a vida seria uma escuridão só.
Tanto na música quanto no livro existe uma válvula de escape para as situações que vivemos no dia a dia ou em um contexto temporal, no caso da música de Chico a ditadura; o que me levou a pensar quais são os meus morangos e as minhas válvulas de escape pra quando a coisa fica preta e descobri que ao ouvir as minhas músicas favoritas enquanto dirijo, corro no parque, danço com minha sobrinha, leio um “livro florzinha” ou assisto meu programa favorito na TV estou comendo um morango. Coisas simples quase insignificantes, mas que nos deixam prontos para enfrentarmos os leões e os abismos que a vida coloca a nossa frente porque se não for assim ninguém segura esse rojão.
Até a próxima.
P.S Pra vocês o clipe de Meu caro amigo, com Chico Buarque e Francis Hime.

sábado, 30 de julho de 2011

Encontros e despedidas



Ele foi o primeiro parente que chamei de tio. Antes mesmo de me dar conta que era gente, uma pessoa com desejos, vontades e frustrações ele já era meu tio Nonato. Um tio carinhoso, bonachão, daqueles que te dá dinheiro pra balinha e se você está naquele boteco copo sujo acompanhando a birita dos mais velhos (pois é, eu sou do tempo em que criança ia comprar a cerveja para o pai) ele te comprava seu refrigerante favorito e te cobria de beijos. E tudo isso só pra expressar todo o sentimento que ele tinha pelos filhos e sobrinhos.
Foram muitas férias e feriados que passamos juntos, onde eu ia pra casa dele ou os filhos dele vinham para nossa casa. Minha tia, a mulher dele era e ainda é uma cozinheira de mão cheia; foi com ele que comi tatu pela primeira vez e adorei o sabor daquele carne tão diferente. Naquela época meu refrigerante preferido era fanta laranja e ele sempre estava na geladeira para que eu saboreasse.
O tempo passou, crescemos, mudamos de cidade e passei exatamente 23 anos sem ver meu tio Nonato e em julho de 2008 voltei a Valença e ele me esperava na rodoviária com o neto, me levou pra casa onde a tia Socorro me esperava com frango assado, arroz branco e uma coisa que me emocionou até a alma: tio Nonato abriu a geladeira e tirou uma fanta de dois litros e me disse: — Que eu me lembro esse era o refrigerante que você mais gostava, não era? — Minha garganta travou e eu peguei o refri, despejei em um copo e bebi feliz.
Naquela noite, enchi a cara com ele, minha tia, meu primo Kleber, minha prima Valda e os respectivos companheiros de cada um, bem como os filhos deles. Foi uma noite maravilhosa com riso, brincadeiras e lembranças.
Ano passado nos encontramos novamente no aniversário do tio Tomaz e combinamos nos reencontrar esse ano para o aniversário dele de 70 anos, mas infelizmente não aconteceu; na sexta-feira, dia 24/06 o Kleber ligou dizendo que a festa tinha sido adiada porque o tio Nonato estava doente e era sério. Meu pai e o Ari, que é meu primo, já estavam combinando visitá-lo mesmo sem festa. Não deu tempo: na quinta-feira, dia 30/06, meu tio deixou este mundo para encontrar os pais, as irmãs e a filha no andar de cima.
Nossa família ficou menor e um pouco mais triste, mas é impossível negar que esse meu tio tão amado e tão querido soube viver a vida como poucos. Para ele a vida era pra ser vivida a mil por hora.
O que dizer nessa hora tão dolorida? Apenas um desejo: vai com os anjos, vai em paz.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Ávida em vender, mas indiferente ao cliente


Meus amigos, no sábado, 02/07, lá fui eu trocar uma sandália que ganhei de presente de minha amiga Ellen Campos na Ávida da 304 sul (Brasília). Chegando lá dei meu sorriso mais bonito para a vendedora e ela após pegar o sapato e olhar disse que não poderia trocá-lo porque o mesmo não tinha a etiqueta. Perguntei que etiqueta? Ela procurou em dois pares de sapato na vitrine e só achou no terceiro me mostrando que a tal etiqueta era obrigatória. Falei que daria o número da nota fiscal e ela então me passou pra gerente que falou a mesma coisa. Liguei pra minha amiga e expliquei a situação e a gerente Marlene não trocou de jeito nenhum.
Fui então ao Park Shopping trocar outro sapato na Aleatto e surpresa: mesmo sem nota fiscal, etiqueta ou qualquer outra coisa além do meu sorriso, a vendedora Flávia foi só simpatia comigo. Ela pegou o sapato e disse que hoje não era dia de troca, mas dava-se um jeito, quando perguntei se a loja fazia troca aos sábados. Ela buscou outros modelos, pois, o sapato em questão não tinha mais o meu número. Ela foi de uma simpatia e profissionalismo sem medida. Ganhou uma cliente. Diferente das Lojas Ávida que acabou perdendo duas. E olha que minha amiga comprou seis pares de sapato. Tem noção?
Uma coisa que me chamou a atenção foi que se a bendita etiqueta era obrigatória por que ela não estava em TODOS os sapatos da loja? Já que a vendedora levantou três sapatos para encontrar e me mostrar a mesma? Deixei essa resposta para responderem para minha amiga Ellen.
Gostaria que vocês distribuíssem esse post para mais pessoas ficarem sabendo o tipo de tratamento que essa loja dispensa aos seus clientes.
Um beijo e até mais.


sexta-feira, 27 de maio de 2011

Fazendo a coisa (que acredito ser) certa

Vim por meio deste fazer uma solicitação a todos e embora correndo o risco de levar uma pedrada ou outra coisa do gênero preciso colocar meu ponto de vista e opinião acerca de um assunto que a semanas bombardeia os telejornais, enche minha caixa de mensagem e grita a altos brados no rádio: o kit anti-homofobia que seria distribuído nas escolas de todo o Brasil e por pressão de muitas instituições da sociedade brasileira foi proibido a força e quase por violência.
Diante desse ato podemos então afirmar que o slogan do governo passado não passa de balela. Este país não é um país de todos; é seu se você for do gênero masculino, branco, hétero, cristão e bem sucedido, caso contrário procure outro lugar pra viver, pois aqui não lhe cabe. Nossa presidente Dilma deu sua primeira bola fora, ao recuar diante dessa questão, afirmando que o kit pode conter erros de interpretação ou coisa que o valha. Na verdade o que ela queria era salvar a pele do Palocci e isso todo mundo ficou sabendo.
Quero aqui colocar todo meu apoio, embora ele seja pequeno e sem expressividade à causa dos homossexuais. Principalmente porque ali dentro daquele invólucro de pessoa rotulada como, viado, sapatão, sandalinha, baitola e o que seja, tem uma pessoa com todas as alegrias, amores, família e escolhas. É pecado? A Bíblia diz que sim. Mas eu amo o pecador e as escolhas que eles fazem não cabe a nós julgar. Não é o próprio Deus que diz que “Não julgueis, para que não sejais julgados. Pois, com o critério com que julgardes, sereis julgados; e, com a medida com que tiverdes medido, vos medirão também.”? (Mt 7:1-2)
Prefiro acreditar que quando Deus, na hora de meu julgamento abrir seu PowerMac e digitar meu nome tenha escrito que apoiei a causa de uma das várias minorias oprimidas. E que isso conte pontos para mim, já que em outras sessões não fui uma boa garota. Prefiro também acreditar que não é pecado amar. Mesmo que esse amor, não venha em um pacote perfeitinho ou aprovado pelos muitos setores de nossa sociedade. Se for pecado, então irei arcar com as conseqüências de meus atos, mas desta vez será com quem realmente importa.
Um aviso para os desinformados achando que marcaram ponto: na mesma medida que tem um povinho contrário as cartilhas e a favor da alienação e desrespeito a esse grupo, tem um monte de gente incluindo aí professores, que fazem um trabalho de formiguinha ensinando respeito e aceitação aos seus pares dentro da escola e não são gays, viu minha gente? É gente que acredita que informação e atitudes positivas transformam o mundo.
E afirmo com todas as letras: Sou favorável à causa em todas as suas vertentes e decisões que melhorem e dêem visibilidade e respeito a esse grupo da sociedade. Então meus caros, por favor, não me mandem petições, assinaturas, protestos ou coisa que o valha para massacrar ainda mais os homossexuais. Mandem para outro que vá assiná-lo porque eu gentilmente devolverei e com exposição de motivo.
Não interessa se foi o Ratzinger quem assinou! Aliás, um homem, representante de Deus na Terra e em seus discursos só fala em proibições, intolerâncias, castigo e mostras do fogo do inferno não pode saber nada sobre o amor; é mais um burocrata preocupado com suas regalias e dando a mínima para as pessoas.
Podem jogar pedra então, eu estou protegida!



domingo, 22 de maio de 2011

A realidade de ser professor e os números

            Sou professora porque a profissão me escolheu. Quando criança o máximo de sonho que eu tinha era de encontrar um príncipe e casar com ele. Engraçado é que muitas colegas que tinham outras aspirações na vida acabaram encontrando um homem pra chamar de seu enquanto que eu cada vez mais me enveredo pelo mundo das idéias e do ensinar e aprender. O que não é, diga-se de passagem, uma prática fácil; a cada dia mais e mais responsabilidades que eram da família são repassadas para os professores e nos é cobrado responsabilidades que passa ao largo de nossa alçada. Estamos em um momento crucial onde a nossa prática está sendo questionada e por mais que tentemos falar somos ignorados.
            O que quero comentar aqui é acerca das palavras da professora Amanda Gurgel, uma potiguar, que foi a câmara dos deputados do Rio Grande do Norte e com sua voz baixa, pausada, mas pontuada de indignação, traça um painel da educação de seu estado e serve como base para todo o Brasil. O momento em que ela, afirma que sobre seus ombros pesam toda a responsabilidade de salvar o país por meio da educação com giz e quadro negro é um dos momentos onde, eu como professora, tive a garganta travada por um nó. Quando ela fala: “Sou eu a redentora do país? Não posso, não tenho condições! Principalmente com o salário que recebo.” É de uma indignação e um desalento que poucas vezes vi retratado em palavras, e falado acima de tudo com muita propriedade por quem sabe que é assim que a educação ou falta dela acontece em nosso país.
            Em muitos momentos comparei minha rotina com a dela e percebi a distância que separa nossas realidades e muitas outras que nos aproximam. Ser professor em Brasília ou no Rio Grande do Norte, não é fácil. Amanda discorre não apenas sobre a situação dentro da sala de aula com seus alunos, mas como os professores sobrevivem com o salário, de como é a vida com três empregos, das escolhas que fazem, da proibição (absurda!!!) de professores lancharem junto com os alunos ou do sucateamento das escolas, onde a meninada precisa ir atrás de uma carteira porque na sua sala de aula não há em número suficiente para que ela possa se sentar.
           E entre muitas ideias, projetos, políticas utopias, é sabido que o senador Cristovam Buarque tem um projeto de lei (PLS - PROJETO DE LEI DO SENADO, Nº 480 de 2007 que obriga todos os agentes públicos eleitos matricularem seus filhos e demais dependentes em escolas públicas até 2014.) que sou contra, pois acredito que a escola onde nossos filhos estudam é uma escolha que leva em conta não apenas o aprender a ler e escrever, mas valores morais, religiosos e familiares e portanto, para pobres ou ricos deve ser uma questão de escolha, não algo imposto. A proposta do senador seria mais uma daquelas leis que virariam piada e não pegariam. Para que a educação tivesse êxito seria necessário um conjunto de fatores, como valorização do professor, do aluno, bons salários, condições de trabalhos, o aparelhamento das escolas e ainda uma campanha de conscientização da população de que a escola é de todos e por isso deve ser cuidada por todos.
            São muitas as questões e maior ainda é o sentimento de indignação que Amanda nos deixa para refletirmos sobre suas palavras. Muitas coisas foram ditas sobre ela e contra ela após o vídeo − uma delas é que ela como militante do PSTU − estava ali fazendo politicagem. Deu entrevistas, afirma que não participa de redes sociais, mas já tem perfil falso tanto no Twitter como no Facebook. Sendo que no Twitter ela foi um dos assuntos mais comentados da semana e seu vídeo no You Tube já conta com quase um milhão de acessos.
O melhor de tudo isso é ver que em nenhum momento Amanda fez papel de vítima ou pobre coitada, era sim uma pessoa digna que naquele momento relatava a realidade em que vive e recusava o papel de professorinha que precisa ser salva, mas acima de tudo precisa ter dignidade para trabalhar e viver. Pra quem não viu deixo aqui o vídeo. Assistam e reflitam, pois a educação da escola pública e a qualidade desta já começa a se refletir também em escolas particulares; se você duvida observe o que acontece ao seu redor.


quarta-feira, 6 de abril de 2011

Paixão e Glória


A primeira cena de Murderball – Paixão e Glória é emblemática: mostra um homem em uma cadeira de rodas trocando de roupa. O que para os andantes é uma coisa simples e banal, para alguém com tetraplegia é uma ação que exigiu meses de fisioterapia, esforço e dores. Zupan, o homem da cena, conta sem piscar como foi seu acidente e quantos pinos tem no pescoço.
Longe de mostrar a dificuldade de ser cadeirante em um mundo de pessoas andantes, este documentário de 2005 mostra a trajetória de 12 homens da seleção americana de rúgbi em cadeira de rodas, que por algum revés do destino viram a vida ser interrompida para que dela fosse feito um novo começo.
Keith, um dos personagens que sofre um acidente de moto e vai para a reabilitação aprender coisas simples como se levantar da cama, passar desta para a cadeira, tirar os sapatos; resume numa frase o que o espera: “o que um dia foi normal, nunca será igual” e mesmo assim há um desejo enorme de ser normal e não alvo de olhares penalizados ou de uma ave rara que por algum motivo saiu da gaiola.
Não são cadeirantes, são homens independentes; trabalham, namoram, vão ao mercado, têm família, esposa e filhos. São homens que se divertem enchendo a cara, não levam desaforo pra casa e são ainda vingativos e bons de briga. Uma das cenas mais engraçadas do filme é Joe Soares, vítima de poliomielite, contando como deu uma surra em um garoto que vivia chamando-o de aleijado quando estudava.
A cadeira de rodas, longe de limitá-los é um instrumento de liberdade, aqui não há indulgência, os caras são vencedores, aprenderam tudo de novo: locomover-se, comer, vestir-se e a coisa que para eles é a melhor descoberta do mundo e os define como homens alfa que são: saber que a lesão não os deixou impotente para fazer sexo. Como bem explica Hogset contando que aprendeu primeiro a se masturbar para só depois fazer coisas, digamos, menos importante.
As cenas em que a seleção está em quadra mais se parecem com um campo de batalha e as cadeiras de rodas como carros tanque. Não há misericórdia, nem limitações, naquele momento são homens medindo forças pra ver quem é o melhor.
O filme mostra como cada um venceu o medo do futuro; a constatação de que jamais voltariam a andar, mas que isso jamais deveria limitá-los ou confiná-los a viverem escondidos. Tampouco mostra os problemas de acessibilidade das grandes cidades para quem se locomove de muletas ou numa cadeira de rodas, mais que isso, Murderball ensina-nos que somos muito maiores do que imaginamos.
Simplesmente arrebatador.


  -Segue abaixo o link para baixar o filme e o trailer no YOUTUBE.
          
http://defilmees.blogspot.com/2009/11/murderball-paixao-e-gloria-murderball.html

quinta-feira, 31 de março de 2011

MULHER 3D

Há muito deixei de assistir e acompanhar Big Brother e outros reality-shows, porque sinceramente, acho minha vida bem mais divertida do que aquele povo confinado querendo mostrar o que não é. Mas isso não vem ao caso, o que eu quero falar aqui é sobre o vencedor ou melhor a vencedora do BBB 2011, a Maria. Ela é bonita, articulada e esperta e Deus sabe como conseguiu a simpatia do povo de casa (pra não dizer as mulheres de casa, porque quem assiste ao BBB e principalmente vota no programa do Bial é a mulherada) e saiu vencedora.
No começo ouvia os comentários das colegas e nas páginas de notícias da internet, havia sempre uma notinha. E as histórias eram sempre as mesmas de como a Maria era ousada, de como chegava chegando nos caras, aliás, no MauMau e de como aquilo assustava o coitado do cara e que não se intimidava ou recuava diante das negativas dele. Fiquei curiosa em conhecer essa pessoa e lá fui eu escarafunchar. Não foi preciso procurar muito, as noticias pipocavam e Maria era manchete por seu comportamento, digamos fora dos padrões. A mais completa delas veio em uma matéria do programa Mais Você, nele Ana Maria fez um perfil completo da moça, chamou a mãe, entrevistou os amigos e surpresa, descobriu-se que o jeitinho de ser dela foi herdado e estimulado pela mãe que não se fazia de rogada em ir atrás do que queria.
Por mais que nosso mundo caminhe para uma paridade de gêneros, a maioria das pessoas estranha e olha torto para a mulher que não se faz de rogada e vai atrás do que quer no campo sentimental e sexual. Nesses três meses de BBB ouvi toda espécie de adjetivo para a Maria: fácil, vagabunda, prostituta, entre outros ou comentários do tipo: Como ela se presta aquele papel? Ou: ela não tem vergonha na cara? E confesso que numa das vezes em que vi o programa o MauMau gritava com ela dizendo que não queria ficar com ela e que entre eles não haveria nada. E pra fechar com chave de ouro, depois da discussão ele comentava com um amigo da casa que jamais namoraria uma menina como ela, porque garotas como ela não foram feitas para namorar ou casar. Um primor de frase machista e preconceituosa.
Trabalhei com uma colega que não se fazia de rogada, quando chegava alguém na escola e ela se interessava, ela partia pra cima e sempre se dava bem. Não precisa dizer que ela era motivo de chacota na sala de professores. Uma vez não resisti e falei que elas estavam com inveja da coragem da moça que não esperava acontecer e já armava a jogada. E era isso mesmo.
Mas que valorização é essa?  Somos seres com dúvidas, desejos e aspirações, sentimos tesão, temos fantasias sexuais (eu tenho!) Muitas de nós, senão todas, queremos uma noite de sexo quente e gostoso com o bonitão da festa. Mas a nossa coragem se perde no meio do caminho quando começamos a pensar nas consequências: e for rechaçada, o que ele vai pensar de mim? A diferença entre nós mulheres comuns e essa corajosa é que ela não pensa e já parte para a ação. Esse comportamento de pegadora assusta e faz muito homem brochar, pois eles não estão acostumados a isso. Mulheres ousadas, cientes de sua própria sexualidade e que não temem mostrar isso para quem quiser são personagens que começam a se tornar comum na nossa sociedade. E as que dão a cara a tapa estão sempre preparadas para os comentários maldosos que surgem. O que não quer dizer que não magoa, magoa e muito. Nós mulheres somos múltiplas: mãe, filha, namorada, profissional, amiga, amante, tudo junto e ao mesmo tempo, por que não podemos alardear esse poder que nos foi dado?
Quando descobri que a Maria estava na final do programa secretamente torci para ela, mas sabia que era praticamente impossível ela sair vencedora, a moça dos três D: Disposta, Disponível e Desinibida arrebanhar 1,5 milhao de reais? Duvidei. Mas ela convenceu e levou. E bateu candidatos fortíssimos: Daniel, a minoria gay e o Weslley, o doutor bom moço e TDB. Acredito que por essas e outras o mundo pode se um lugar melhor. Viva Maria, ela merece!!!!
Até a próxima.


P.S. Tudo isso me faz lembrar a música da Rita Lee, PAGU que diz exatamente o mix que é ser mulher:

“Minha força não é bruta Não sou freira Nem sou puta... Porque nem! Toda feiticeira é corcunda Nem! Toda brasileira é bunda Meu peito não é de silicone Sou mais macho Que muito homem”



quinta-feira, 10 de março de 2011

*Retrato de Família



Leon Tolstói afirma em seu livro Anna Karenina[1], que todas as famílias felizes são iguais e as infelizes são cada uma infeliz a sua maneira. Um dos meus filmes favoritos se chama Feriados em Família que narra a história de uma família que se encontra no feriado do dia de Ação de Graças que rende boas gargalhadas e cenas emocionantes. Além do mais, sou canceriana, o signo mais família do zodíaco. Não precisa dizer que adoro o Natal e amo meus aniversários, são momentos maravilhosos para juntar a família.
 Por  tudo isso quero aqui falar e mostrar as delícias e a graça de uma parte da minha família que se reuniu para comemorar o aniversário de oitenta anos do meu tio Tomaz. A festa foi absolutamente inesquecível. A reunião começou na quarta-feira quando chegamos e seguiu na quinta e sexta-feira com a chegada dos irmãos e outros parentes. Sem falar nos filhos, netos, sobrinhos e aderentes do aniversariante.
                Particularmente vejo com muita desconfiança pessoas que não participam ou não gostam de eventos familiares mesmo a contragosto. Família, mesmo aos trancos e barrancos é tudo de bom!  Há aqueles parentes que a gente ama, outros que não toleramos, as fofocas, as histórias e as situações impagáveis que viram lembranças e assuntos para as próximas festas e encontros.



                Conheci um monte de primos que não fazia ideia que existiam, revi outros que fazia anos não encontrava. Revi um antigo amor e me emocionei, e que bom saber que o tempo passa, a fila anda e nos tornamos pessoas melhores e diferentes. (graças a Deus!)
                Tudo foi perfeito: a missa, o almoço, o churrasco, a hora do parabéns, a reunião familiar. Foram muitas gargalhadas, muita cerveja, uísque[2], água de coco, peixadas, banhos de mar e principalmente beijar, abraçar, conversar e conviver com o aniversariante, meu tio Tomaz, homem sábio, sensível e muito amado, que aos oitenta anos encanta as pessoas ao ponto de fazê-las se deslocarem mais de dois mil quilômetros só para estar com ele.



                Costumamos muitas vezes não valorizar esses momentos, todo mundo junto, os micos e alguém lembrando o quanto você era feio, mais magro ou quando você não bebia, o que fazer? Entre no clima e não seja o único a ser sacaneado, sacaneei os parentes também, você vai ver que a farra vai ser ainda melhor. Se não entrar no clima você será lembrado como aquele parente chato de nariz empinado que não se diverte nas festas ou nunca aparece.
Pra encerrar quero citar uma frase que a prima Yana, uma garota linda e super descolada falou ao se definir, e escrevo aqui para definir família: “Família é baião de dois com ovo frito, tudo misturado e servido na baixela de prata.”
E é isso mesmo: Simplicidade revestida de sofisticação.
E para mostrar que tudo aconteceu, posto um dos vídeos da festa. Pra rir e chorar e se divertir, igualzinho como acontece nas famílias.

               




*Esta crônica foi escrita em Outubro de 2010, mas só agora veio para o blog.
[1] Comecei a ler três vezes, em todas não saí da página três, desisti. A frase em questão abre o livro.
[2] Meu pai e meus tios acabaram com o estoque da bebida na cidade.




quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

A resposta, o livro.




Confesso que sempre ao começar a ler um livro vou a última página e leio os últimos parágrafos, não foi diferente com A resposta, livro de estréia da americana Kathryn Stoc­kett. Quando li, pensei: o final é triste.
Por tudo que estava lendo, vieram a mim uma porção de questionamentos: como alguém julga, condena, mutila e até mata, simplesmente porque o outro tem uma cor de pele diferente da sua? Como pessoas que freqüentaram universidade se viam obrigadas a fazer os piores tipos de trabalhos por serem negros?
A autora nos apresenta a tudo isso e mais. A narrativa se passa nos Estados Unidos, nos anos sessenta, mais exatamente na cidade de Jackson no estado do Mississipi e ser negro na América naqueles anos era quase como ser um intocável na Índia.
Stockett narra o dia a dia de 3 mulheres, Skeeter, que é branca, Minny e Aibileen, que são negras e uma pessoa onipresente, a babá de Skeeter, Constantine, que sumiu sem deixar rastro.
Skeeter acabou de se graduar, volta para casa, mas ainda não tem certeza sobre o que vai ser quando crescer. Minny é uma cozinheira soberba, mas não para em nenhum emprego, porque não leva desaforo pra casa e a doce Aibileen que já criou dezessete crianças brancas, mas seu filho morreu por omissão de socorro. Para Aibileen a vida é um pouco mais dura.
Todas, em menor ou maior grau estão sufocadas pelas regras morais e as leis rígidas que a segregação lhes impõe:
Negros não usam o mesmo banheiro que brancos.
Negros não se casam com brancos.
Negros sentam nos últimos bancos dos ônibus públicos.
Nesse contexto faz pouco tempo que Rosa Parks se recusou a dar seu lugar a um branco no ônibus deflagrando uma onde de protestos por parte dos afro-americanos e a parcela branca que discordava dessa imposição.
Observando o modo como suas amigas tratam as empregadas e querendo saber para onde sua babá foi, Skeeter tem a idéia de escrever um livro sobre as histórias das serviçais negras e suas patroas, surgindo daí relatos que tanto são maravilhosos como chocantes. E no meio das narrativas, os acontecimentos que para os moradores da parte negra de Jackson, são comuns, mas não deixam de revoltar: um rapaz espancado até quase a morte e ficar cego, a tirania das patroas, o medo de serem descobertas ao contarem suas histórias a uma branca.
No meio disso tudo tem Skeeter tentando arrumar um namorado, mas está difícil. Com um metro e oitenta de altura, magra e um cabelo que só Deus sabe como arrumar, Skeeter está longe de ser o padrão vigente. As amigas controladoras e esnobes. E ainda tem sua mãe querendo casá-la a qualquer custo. E tudo isso em um livro só.
Kathryn escreve com a alma. Não são poucas as passagens que a garganta trava e as lágrimas escorrem, mais ainda são aquelas em que gargalhamos, nos alegramos e enternecemos com a força de suas palavras, o livro é tão bom que devorei em três dias e olha que o troço tem quase seiscentas páginas! Minha amiga Cacá, ao lê-lo disse que a uma certa altura começou a economizar o livro por pena, de tão bom que ele era.
Na verdade ele é perfeito. Bem escrito, sensível, revoltante, ousado, engraçado, tudo junto. Terminei a última página chorando de emoção e de tristeza porque ele tinha acabado.
Recomendo também lerem a pequena biografia da autora nos créditos do livro, que é tão emocionante como a história que ela contou.
Lembra do que eu falei no primeiro parágrafo? Não é nada disso, no final todas essas mulheres maravilhosas encontram o que procuravam: a liberdade. Seja ela no espaço físico ou nas barreiras invisíveis que as mantinham presas.
 Simplesmente imperdível!