quarta-feira, 6 de abril de 2011

Paixão e Glória


A primeira cena de Murderball – Paixão e Glória é emblemática: mostra um homem em uma cadeira de rodas trocando de roupa. O que para os andantes é uma coisa simples e banal, para alguém com tetraplegia é uma ação que exigiu meses de fisioterapia, esforço e dores. Zupan, o homem da cena, conta sem piscar como foi seu acidente e quantos pinos tem no pescoço.
Longe de mostrar a dificuldade de ser cadeirante em um mundo de pessoas andantes, este documentário de 2005 mostra a trajetória de 12 homens da seleção americana de rúgbi em cadeira de rodas, que por algum revés do destino viram a vida ser interrompida para que dela fosse feito um novo começo.
Keith, um dos personagens que sofre um acidente de moto e vai para a reabilitação aprender coisas simples como se levantar da cama, passar desta para a cadeira, tirar os sapatos; resume numa frase o que o espera: “o que um dia foi normal, nunca será igual” e mesmo assim há um desejo enorme de ser normal e não alvo de olhares penalizados ou de uma ave rara que por algum motivo saiu da gaiola.
Não são cadeirantes, são homens independentes; trabalham, namoram, vão ao mercado, têm família, esposa e filhos. São homens que se divertem enchendo a cara, não levam desaforo pra casa e são ainda vingativos e bons de briga. Uma das cenas mais engraçadas do filme é Joe Soares, vítima de poliomielite, contando como deu uma surra em um garoto que vivia chamando-o de aleijado quando estudava.
A cadeira de rodas, longe de limitá-los é um instrumento de liberdade, aqui não há indulgência, os caras são vencedores, aprenderam tudo de novo: locomover-se, comer, vestir-se e a coisa que para eles é a melhor descoberta do mundo e os define como homens alfa que são: saber que a lesão não os deixou impotente para fazer sexo. Como bem explica Hogset contando que aprendeu primeiro a se masturbar para só depois fazer coisas, digamos, menos importante.
As cenas em que a seleção está em quadra mais se parecem com um campo de batalha e as cadeiras de rodas como carros tanque. Não há misericórdia, nem limitações, naquele momento são homens medindo forças pra ver quem é o melhor.
O filme mostra como cada um venceu o medo do futuro; a constatação de que jamais voltariam a andar, mas que isso jamais deveria limitá-los ou confiná-los a viverem escondidos. Tampouco mostra os problemas de acessibilidade das grandes cidades para quem se locomove de muletas ou numa cadeira de rodas, mais que isso, Murderball ensina-nos que somos muito maiores do que imaginamos.
Simplesmente arrebatador.


  -Segue abaixo o link para baixar o filme e o trailer no YOUTUBE.
          
http://defilmees.blogspot.com/2009/11/murderball-paixao-e-gloria-murderball.html