quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

A resposta, o livro.




Confesso que sempre ao começar a ler um livro vou a última página e leio os últimos parágrafos, não foi diferente com A resposta, livro de estréia da americana Kathryn Stoc­kett. Quando li, pensei: o final é triste.
Por tudo que estava lendo, vieram a mim uma porção de questionamentos: como alguém julga, condena, mutila e até mata, simplesmente porque o outro tem uma cor de pele diferente da sua? Como pessoas que freqüentaram universidade se viam obrigadas a fazer os piores tipos de trabalhos por serem negros?
A autora nos apresenta a tudo isso e mais. A narrativa se passa nos Estados Unidos, nos anos sessenta, mais exatamente na cidade de Jackson no estado do Mississipi e ser negro na América naqueles anos era quase como ser um intocável na Índia.
Stockett narra o dia a dia de 3 mulheres, Skeeter, que é branca, Minny e Aibileen, que são negras e uma pessoa onipresente, a babá de Skeeter, Constantine, que sumiu sem deixar rastro.
Skeeter acabou de se graduar, volta para casa, mas ainda não tem certeza sobre o que vai ser quando crescer. Minny é uma cozinheira soberba, mas não para em nenhum emprego, porque não leva desaforo pra casa e a doce Aibileen que já criou dezessete crianças brancas, mas seu filho morreu por omissão de socorro. Para Aibileen a vida é um pouco mais dura.
Todas, em menor ou maior grau estão sufocadas pelas regras morais e as leis rígidas que a segregação lhes impõe:
Negros não usam o mesmo banheiro que brancos.
Negros não se casam com brancos.
Negros sentam nos últimos bancos dos ônibus públicos.
Nesse contexto faz pouco tempo que Rosa Parks se recusou a dar seu lugar a um branco no ônibus deflagrando uma onde de protestos por parte dos afro-americanos e a parcela branca que discordava dessa imposição.
Observando o modo como suas amigas tratam as empregadas e querendo saber para onde sua babá foi, Skeeter tem a idéia de escrever um livro sobre as histórias das serviçais negras e suas patroas, surgindo daí relatos que tanto são maravilhosos como chocantes. E no meio das narrativas, os acontecimentos que para os moradores da parte negra de Jackson, são comuns, mas não deixam de revoltar: um rapaz espancado até quase a morte e ficar cego, a tirania das patroas, o medo de serem descobertas ao contarem suas histórias a uma branca.
No meio disso tudo tem Skeeter tentando arrumar um namorado, mas está difícil. Com um metro e oitenta de altura, magra e um cabelo que só Deus sabe como arrumar, Skeeter está longe de ser o padrão vigente. As amigas controladoras e esnobes. E ainda tem sua mãe querendo casá-la a qualquer custo. E tudo isso em um livro só.
Kathryn escreve com a alma. Não são poucas as passagens que a garganta trava e as lágrimas escorrem, mais ainda são aquelas em que gargalhamos, nos alegramos e enternecemos com a força de suas palavras, o livro é tão bom que devorei em três dias e olha que o troço tem quase seiscentas páginas! Minha amiga Cacá, ao lê-lo disse que a uma certa altura começou a economizar o livro por pena, de tão bom que ele era.
Na verdade ele é perfeito. Bem escrito, sensível, revoltante, ousado, engraçado, tudo junto. Terminei a última página chorando de emoção e de tristeza porque ele tinha acabado.
Recomendo também lerem a pequena biografia da autora nos créditos do livro, que é tão emocionante como a história que ela contou.
Lembra do que eu falei no primeiro parágrafo? Não é nada disso, no final todas essas mulheres maravilhosas encontram o que procuravam: a liberdade. Seja ela no espaço físico ou nas barreiras invisíveis que as mantinham presas.
 Simplesmente imperdível!

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

A pé por aí

Meus amigos, meu sapo fumaçou e me deixou na mão no sábado pela manhã  em frente ao Monumento JK. Como o que não tem remédio remediado está, acionei o seguro, o guincho veio e fomos pra oficina do “Seu” Sergio, passei os quatro dias seguintes sem carro e eu como todo morador de Brasília que tem rodas em lugar de pernas, vislumbrei que minha vida seria o caos sem carro.
            Pois, para minha surpresa até que me saí bem. No sábado, ir pra UnB tornou-se inviável, pois passei a manhã no mecânico e carregar, bolsa, laptop e cadernos sacolejando em ônibus não me animava. Na boa? Calculei o prejuízo de faltar à aula e fiquei em casa, o que foi ótimo. Aproveitei para confraternizar com os amigos. O Vini me ligou e eu disse que estava sem carro; sem problema! Passou em casa e me pegou. Em resumo, fui de carona. E foi assim o fim de semana inteiro. Na segunda usei o carro do meu irmão, mas na terça fui de ônibus para o trabalho, e aí fui me apercebendo de uma coisa: carro é tudo de bom e nada fica longe. Mas também impede que olhemos para os lados.
            Nas minhas andanças descobri perto da minha casa dois restaurantes, uma loja de camping e uma loja de molduras, assim, do ladinho! Sem falar nas pessoas que encontrei quando desci do ônibus ou caminhando para a parada. Uma delícia!!!
            O que quero dizer é que apesar de prático e rápido o carro nos tira a leveza de apreciar o movimento e calmamente chegar a qualquer lugar. Preocupamos-nos tanto em não bater nos outros carros, não voar perto dos pardais que tudo mais deixa de ser importante.
            Não estou aqui fazendo campanha pro famoso deixe o carro e vá de ônibus, ir como? Pelo contrário, AMO meu sapinho e sei que o transporte público mal funciona e em Brasília a arquitetura da cidade e sua geografia não ajudam quando o assunto é ir a pé em algum lugar. Em algumas vias nem passeio tem ou então são tão irregulares que caminhar por eles é quase fazer trekking. Um exemplo é o trajeto para ir ao meu trabalho: de carro levo no máximo doze minutos (isso mesmo, 12 minutos!), mas de ônibus levo quase uma hora, às vezes mais; não pela distancia, mas pela demora dos ônibus na parada.
            Outro fato que nos empurra para o carro é o fato dos shoppings não aceitarem guardarmos nossas magrelas no estacionamento, como é caso do Alameda Shopping, fato este confirmado por mim e pelo meu amigo Leo Spigel. No caso do Leo, foi na semana passada. Aí, fica difícil!
            Fiquei pensando tudo isso quando fui buscar meu carro (a pé!) no mecânico hoje pela manhã. Queria caminhar mais, passear de bike e apreciar a paisagem. Quando caminho, penso, filosofo, brigo e faço as pazes comigo e com o mundo e resolvo muitos dilemas sejam eles existenciais e práticos, aliás, foi caminhando que nasceu a idéia do texto que vocês estão lendo.
Uma pena que a logística da nossa cidade não ajuda, pois andar de bike ou caminhar faz bem tanto pra saúde quanto para o espírito.
Pensem nisso.

ERRATA

A noite que fomos a Nefertiti, foi na quinta-feira, 13/01/2011. Na quarta estávamos no Ó do Borogodó. Tudo de bom!!!