domingo, 22 de maio de 2011

A realidade de ser professor e os números

            Sou professora porque a profissão me escolheu. Quando criança o máximo de sonho que eu tinha era de encontrar um príncipe e casar com ele. Engraçado é que muitas colegas que tinham outras aspirações na vida acabaram encontrando um homem pra chamar de seu enquanto que eu cada vez mais me enveredo pelo mundo das idéias e do ensinar e aprender. O que não é, diga-se de passagem, uma prática fácil; a cada dia mais e mais responsabilidades que eram da família são repassadas para os professores e nos é cobrado responsabilidades que passa ao largo de nossa alçada. Estamos em um momento crucial onde a nossa prática está sendo questionada e por mais que tentemos falar somos ignorados.
            O que quero comentar aqui é acerca das palavras da professora Amanda Gurgel, uma potiguar, que foi a câmara dos deputados do Rio Grande do Norte e com sua voz baixa, pausada, mas pontuada de indignação, traça um painel da educação de seu estado e serve como base para todo o Brasil. O momento em que ela, afirma que sobre seus ombros pesam toda a responsabilidade de salvar o país por meio da educação com giz e quadro negro é um dos momentos onde, eu como professora, tive a garganta travada por um nó. Quando ela fala: “Sou eu a redentora do país? Não posso, não tenho condições! Principalmente com o salário que recebo.” É de uma indignação e um desalento que poucas vezes vi retratado em palavras, e falado acima de tudo com muita propriedade por quem sabe que é assim que a educação ou falta dela acontece em nosso país.
            Em muitos momentos comparei minha rotina com a dela e percebi a distância que separa nossas realidades e muitas outras que nos aproximam. Ser professor em Brasília ou no Rio Grande do Norte, não é fácil. Amanda discorre não apenas sobre a situação dentro da sala de aula com seus alunos, mas como os professores sobrevivem com o salário, de como é a vida com três empregos, das escolhas que fazem, da proibição (absurda!!!) de professores lancharem junto com os alunos ou do sucateamento das escolas, onde a meninada precisa ir atrás de uma carteira porque na sua sala de aula não há em número suficiente para que ela possa se sentar.
           E entre muitas ideias, projetos, políticas utopias, é sabido que o senador Cristovam Buarque tem um projeto de lei (PLS - PROJETO DE LEI DO SENADO, Nº 480 de 2007 que obriga todos os agentes públicos eleitos matricularem seus filhos e demais dependentes em escolas públicas até 2014.) que sou contra, pois acredito que a escola onde nossos filhos estudam é uma escolha que leva em conta não apenas o aprender a ler e escrever, mas valores morais, religiosos e familiares e portanto, para pobres ou ricos deve ser uma questão de escolha, não algo imposto. A proposta do senador seria mais uma daquelas leis que virariam piada e não pegariam. Para que a educação tivesse êxito seria necessário um conjunto de fatores, como valorização do professor, do aluno, bons salários, condições de trabalhos, o aparelhamento das escolas e ainda uma campanha de conscientização da população de que a escola é de todos e por isso deve ser cuidada por todos.
            São muitas as questões e maior ainda é o sentimento de indignação que Amanda nos deixa para refletirmos sobre suas palavras. Muitas coisas foram ditas sobre ela e contra ela após o vídeo − uma delas é que ela como militante do PSTU − estava ali fazendo politicagem. Deu entrevistas, afirma que não participa de redes sociais, mas já tem perfil falso tanto no Twitter como no Facebook. Sendo que no Twitter ela foi um dos assuntos mais comentados da semana e seu vídeo no You Tube já conta com quase um milhão de acessos.
O melhor de tudo isso é ver que em nenhum momento Amanda fez papel de vítima ou pobre coitada, era sim uma pessoa digna que naquele momento relatava a realidade em que vive e recusava o papel de professorinha que precisa ser salva, mas acima de tudo precisa ter dignidade para trabalhar e viver. Pra quem não viu deixo aqui o vídeo. Assistam e reflitam, pois a educação da escola pública e a qualidade desta já começa a se refletir também em escolas particulares; se você duvida observe o que acontece ao seu redor.


2 comentários:

Vinicius disse...

Parabens pelo texto, Paula, a consciencia sobre nosso pais e suas reais necessidades passam por uma reflexao diaria que cabe a cada um de nos!!

Unknown disse...

Temos que espalhar as palavras destga mulher mesmo, e no seu texto vc faz isto brilhantemente Paula! bjks