sábado, 26 de abril de 2008

Bárbaros Tecnológicos


O capítulo 4 do livro do Gênesis relata a história de Caim e Abel, os primeiros filhos de Adão e Eva, durante uma oferta dos frutos tirados da terra, Deus agradou-se mais da oferta de Abel do que de Caim, por que o mesmo a fez de coração, diferente do irmão, que fica com ciúmes e mata Abel.

Passando mais páginas, lemos em 2 Samuel como Davi mata Urias; ele, Davi, o manda para frente de batalha, Urias foi um dos primeiros a tombar e Davi ficou com a viúva, Betsabéia.

Em Atos 7 e 8, está a história de Estevão um dos mártires do cristianismo que foi apedrejado por se recusar a negar sua fé, entre os apedrejadores estava Paulo de Tarso, um zeloso judeu e guardião da sua fé: o judaísmo. Este mesmo Paulo seria mais tarde um convertido e se tornaria um dos pilares do cristianismo no ocidente e teve o mesmo destino de Estevão, em versão mais requintada, foi decapitado.

A bíblia, o livro sagrado do cristianismo está repleto de tragédias, irmão mata irmão, pai mata filho e vice-versa, o próximo cobiça a mulher do outro, chegando a matá-lo. Lendo todas essas histórias, podemos pensar: eles eram bárbaros estavam no início da invenção do mundo como ele é hoje e viviam em guerra. Nós por outro lado sentados na nossa confortável poltrona e vendo o mundo passar pela tela da televisão, não questionamos quando vemos isso em pinceladas mais modernas, mas com o mesmo significado: fratricídio, assassinatos e guerras ditas santas. A pergunta é: pra onde nós vamos?

E a resposta é que não vamos a lugar nenhum, continuamos no mesmo lugar, a diferença é que a notícia corre mais rápido por conta da tecnologia, seja ela a TV, internet, rádio, jornal ou os meios que a polícia tem para desvendar o crime.

O que nos traz ao caso Isabela, por mais que o pai ou a madrasta negue, tudo leva a crer que foram eles os responsáveis pela morte da garota. Mas o que estarrece é o circo ao redor do caso, os mínimos detalhes do que passou ou não naquela noite e que são alardeados aos quatro ventos principalmente pela televisão e o disse-me-disse feito pelos cidadãos de bem, de como a mãe da garota tenta tocar a vida depois da tragédia, o silêncio do pai e da madrasta, a entrevista que eles deram e pra mim o pior: a exploração da Globo tentando ler as entrelinhas do que eles estavam falando: mentira? Verdade? Medo do julgamento? E a opinião dos “especialistas” que explicavam ao público o que o corpo deles falava? Façam-me o favor, até meu pai que não perde um jornal, na hora que o apresentador cita o caso muda de canal, nem ela agüenta mais!!! Antes que pensem que defendo o casal, não estou fazendo isso, se eles fizeram têm que pagar como qualquer criminoso, mas que seja uma decisão da justiça ou do júri, não dos curiosos que se amontoam em frente à casa das famílias envolvidas.

Nós, o público assistimos a tudo opinando, conjeturando e julgando cada ação dos envolvidos. De que nos adianta milhares de anos de evolução, invenções que tornaram nossa vida mais fácil e curam nossa principais doenças se isso é privilégio de poucos? Se ainda não temos empatia com nossos pares. Sabemos comer com talheres, sabemos que é feio falar de boca cheia, usamos perfume para nosso cheiro não incomodar quem está perto de nós, mas passamos ao largo do respeito sincero pelo próximo, suas convicções, suas escolhas religiosas ou sexuais.

Qual a diferença entre nós cidadãos cosmopolitas do século 21 e nossos antepassados que inventaram o mundo como o conhecemos? Nenhuma temos apenas um verniz de civilidade porque tomamos banho todos os dias e retiramos o excesso de pelos do corpo, fora isso somos bárbaros conectados 24 horas ao mundo.

Nenhum comentário: